terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Educação: Como fazer uma criança/jovem alcançar a sua autonomia


Uma das funções da paternidade é incentivar os filhos a atingir a sua autonomia, ou seja, ajudá-los a se separaram dos pais, ajudá-los a se tornarem indivíduos independentes, torná-los capazes de, no futuro, agirem por si próprios.
Antes porém é bom saber-se que tem de se ter em conta a idade da criança e, mas concretamente, o seu nível de maturação. Tomemos por exemplo uma criança de 4/6 anos. Nesta faixa etária, especialmente, os pais são para a criança um modelo de referência. Ela gosta de contar-lhes tudo, de partilhar todas as suas vivências. A criança idealiza-os e tenta imitá-los. Se tal não acontecer já pode ser um indício revelador de que algo não está a caminhar bem no relacionamento pais/criança. A criança gosta que os pais se interessem pelo seu mundo. Sente-se assim mais segura.
Vejamos agora o que se passa com os adolescentes e peço uma especial atenção dos pais para o que a seguir se diz. Esta fase da adolescência é uma fase de oposição aos pais. Os pais deixam e repito, nesta fase, de serem modelos de referência. Aqueles espelhos que em casa reflectem a imagem dos pais começam a apresentá-la de uma forma difusa. Passam a idealizar os seus modelos fora de casa, poderemos até dizer que procuram outros espelhos na casa dos amigos. Eles, nesta fase, não sentem vontade de mostrar prazer junto da família como quando eram crianças mas sim junto dos amigos. Numa fase mais adiantada da adolescência chegam, muitas vezes, a achar os adultos injustos e hipócritas, sentindo uma vontade enorme de reformular o mundo com as suas ideias renovadoras. Compreende-se que os pais possam, a maior parte das vezes, ficar chocados com tais atitudes, mas elas são absolutamente normais. Depois desta fase passada a situação inverte-se.
Ainda nesta fase, um outro factor importante é o da privacidade. É uma altura em que surge o despertar para a vida, onde o sentido do pudor é forte, necessitando de terem o seu “cantinho” onde saibam que não há intromissões neste seu domínio privado, onde qualquer uma pode ser tida como um bloqueio à sua autonomia.
Estas situações não devem ser encaradas pelos pais como um insulto ou como um desafio, nem sequer pensarem que este comportamento vai passar a ser sempre assim, mas como sendo uma fase normal que faz parte integrante do crescimento do jovem. Quando acontece haver uma relação de desafio por parte do jovem  aconselha-se que os pais não tentem mostrar-lhe, e muito menos de uma maneira agressiva, que está “errado” e que eles, como pais, é que estão “certos”. Não! Deve-se procurar ficar calmo pondo de lado aquilo que apetecia dizer e fazer um esforço para compreender o ponto de vista dele; deixá-lo expor as suas ideias, sem criticar, nem humilhar. Depois, então, poderão os pais dar a sua opinião, o seu conselho, mas respeitando a ideia que eles defendem. Este procedimento permite ao jovem sentir-se confiante, ver que os pais se interessam pelas suas ideias, que lhes presta atenção, que pode exprimir o que sente sem recear ser enxovalhado e, assim, ter a capacidade de reflectir sobre as opiniões que vierem a ser dadas pelos pais. Lidar com o jovem desta forma ajuda-o a construir a sua autonomia.
Mas voltando ao tema deste artigo pergunta-se: como começar a levar os filhos a serem autónomos?
Muito simplesmente dando-lhes a oportunidade de fazerem, por eles próprios, o que estiver ao seu alcance. Tudo o que eles já conseguem fazer sozinhos, e já mesmo desde muito cedo, é deixá-los fazer, pois permitir-lhes que lutem com os seus próprios problemas, com as suas próprias dificuldades e até aprender com os seus próprios erros. Mas, pais, nunca os humilhem nem os desvalorizem quando eles não forem capazes de atingir esses objectivos que se propõem alcançar por eles próprios! Mesmo que saia “asneira”! Tem de se fazer todo o possível por respeitar e aceitar o que eles possam estar a sentir! A humilhação trás humilhação mais tarde e manifesta-se quase sempre quando menos se espera!
António Valentim
Psicologo Clinico
Fonte: www.criaroutraescola.com

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